A procissão de 1976

S. Bento da Nossa Terra | O sonho

In Coração Acordado de Manuel Daniel

S. Bento sonhava, dormitando um pouco,
que um dia o levavam numa procissão.
Via os santos todos, em lindos andores,
entravam, saíam, só ele é que não.

Deixou-se dormir, por certo cansado
de olhar pelos filhos que Jesus lhe dera.
E viu-se levado, pelas ruas fora,
ruas perfumadas como em Primavera.

Repicavam sinos, naquele belo dia,
Luciano, Mata, Fernando Padeiro,
sineiros de garra, os sinos tocavam
como se aquele dia fosse o derradeiro.

A abrir vinham os pendões, 
enquanto o sino tocava.
Perfume de incenso e rosas
pelas ruas se espalhava.

Junto a S. Sebastião,
caçadores e militares.
É o mártir mais sofrido
que está nos santos altares.

Vem aí Santa Luzia
a par da Santa Aguedinha.
Uma trata-nos dos olhos,
outra é a mais pequenina.

Por cima do seu andor
São Jurjo não vai direito.
Os rapazes que lhe pegam
inda não têm o jeito.

Peço ao S. Miguel das almas
que traz a sua balança,
que nos livre dos infernos,
seja ele a nossa esperança.

S. João, santo Baptista,
lá saiu do seu altar,
Ele fica todo contente
se alguém se vai baptizar.

Vem depois o Santo António, 
que era Fernando Bulhões,
raparigas e rapazes,
Senhor, quantas devoções.

Santo Antão e Santo Amaro,
lembrando os tempos antigos,
acabam de reparar
que aqui só têm amigos.

S. Pedro vai muito lindo
com o seu rico chaveiro
para fazer companhia
a S. Bento Padroeiro.

E a seguir a mais andores,
que todos eles vão bonitos,
sinto pena ao ver o rosto
do Senhor dos Aflitos.

Santa Comba vai num barco.
Quem por Jesus deu a vida
merece o nosso louvor
e é por todos muito querida.

Mártir Santa Catarina,
sua auréola rebriha.
Princesa de Alexandria,
do próprio rei era filha.

Vem agora a Santa Eufêmia,
pela fé martirizada.
Chagas e feridas ruins,
pessoa aflita é curada.

A senhora Santa Ana,
avó de Nosso Senhor,
pede a todos que aos velhinhos
os tratem com muito amor.

S. José, tão poucas vezes
passeia pelas nossas ruas,
que bem podemos dizer
que temos saudades suas.

Senhora da Conceição,
não sei o que hei-de pedir,
há tanto mal pelo mundo,
Sois Mãe, podeis acudir.

Virgem da Cova da Iria,
Fátima, Virgem dos Céus,
penitência e oração
é o que nos leva a Deus.

Nossa Senhora das Tábuas
segue agora em procissão.
Por ela os nossos artistas
têm grande devoção.

Ó Senhora dos Remédios,
atendei a nossa voz.
Olhai os nossos doentes,
e sempre rogai por nós.

Não vão todos nos andores.
Pois não vão, que grande pena,
Ficou a rezar na Igreja
uma santinha morena.

A Senhora da Assunção,
que no castelo vivia,
por se sentir alquebrada,
não quis ir, que adormecia.

Abraçando a terra inteira
do castelo até à Praça,
a todos a benção manda
Nossa Senhora da Graça

S. Bento caminha agora,
olha em redor toda a rua.
Vai contente e prazenteiro,
vendo esta terra que é sua.

Ó S. Bento padroeiro,
que só queres a paz e o amor.
Dá-nos horror ao pecado
e a Paz de Nosso Senhor.

Ó S. Bento Padroeiro,
Patriarca do Ocidente,
nem sempre em nome da Europa
se decide bem para a gente.

Depois de S. Bento, vem mais um andor.
É o Senhor da Vida, criador de Espaços.
vestido do roxo dos nossos pecados,
Salvador do Mundo, Bom Jesus dos Passos.

Vai gente descalça, pagando promessas,
com velas ardendo, pedaços de luz.
Tanta devoção, tanta dor nas almas...
Salvai-nos a todos, Senhor Bom Jesus.

Vão ao pálio os homens bons
e o Senhor Vigário traz
o Santo Lenho, a relíquia
da Cruz que é sinal de Paz.

Depois da banda afinada,
vai, orante, a multidão.
Sobem foguetes no ar.
Como é linda a procissão....

Esfregou os olhos, meio estremunhado.
Que sonho tão lindo S. Bento sonhou...
Acorda, S. Bento, que a gente da terra
sempre te quis bem e sempre te amou.

Sobre o seu andor, o Senhor Bom Jesus,
em ti se remira, em ti se compraz.
Tu que o representas, Santo Padroeiro,
pede-Lhe para nós muita saúde e paz.

Jesus nunca tira méritos aos santos
e é justo na hora de os considerar.
S. Bento, que és santo, pede a Deus que um dia
contigo possamos os Céus alcançar